Damien Chazelle celebra hoje, dia 19 de Janeiro, 35 anos. No seu currículo de realizador já conta com três longa-metragens de relevo: Whiplash (2014), La La Land (2016) e O Primeiro Homem na Lua (2018). Em 2017, chegou mesmo a vencer o Óscar de Melhor Realizador pelo seu trabalho neste filme sobre o qual falamos hoje: La La Land, um musical que conta a história de amor entre duas pessoas, Mia (interpretada por Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling), que ambicionam seguir caminhos diferentes na vida. Sempre num ritmo acelerado, consegue ser uma verdadeira obra de arte cinematográfica que mostra que seguirmos os nossos sonhos é o mais importante, mas que as grandes paixões nunca se esquecem.

Chazelle é um realizador apaixonado por Música, especialmente por Jazz, como já tinha mostrado no seu filme anterior, Whiplash – Nos Limites. Em La La Land a Música está presente, não só por este ser um musical, com uma banda sonora esplêndida composta e escrita por Justin Hurwitz e Justin Paul, mas também pelo facto de o protagonista ser um grande fã de Jazz, com o sonho de abrir um clube onde poderá tocar as suas canções livremente.
La La Land, ao qual os portugueses decidiram acrescentar Melodia de Amor ao título e os brasileiros fizeram uma melhor escolha ao chamarem La La Land – Cantando Estações, inicia-se com uma música chamada “Another Day Of Sun”. Se prestarmos atenção à letra e ainda que isto nos escape na primeira visualização, conseguimos perceber que logo nos primeiros versos temos uma previsão do final do filme. Uma atriz famosa no meio do trânsito canta:
I think about that day / I left him at a Greyhound station / West of Santa Fe / We were seventeen / But he was sweet and it was true / Still I did what I had to do / 'cause I just knew / (…) / A technicolor world / Made out of music and machine / It called me to be on that screen / And live inside each scene / (…) He'll sit one day, the lights are down / He'll see my face and think of how he / Used to know me.

Na verdade, o que acontece na história do filme é precisamente o que é dito nesta canção: Mia deixa Sebastian para seguir o seu sonho de ser atriz e cinco anos mais tarde ele olha para ela no meio do público do seu recente clube de Jazz e lembra-se de todos os momentos que viveram juntos. A importância desta canção inicial não está apenas relacionada com o facto de ser um prelúdio do que vai acontecer e é importante mencionar também a fantástica coreografia, toda numa só sequência, no meio das filas enormes de carros em Los Angeles.
“Another Day Of Sun”, para além de nos mostrar sobre o que vai tratar a história, ajuda a estabelecer desde logo um ritmo ao filme e mostra ao espectador que está mesmo a assistir a um musical. Depois desta, dá-se um pequeno salto no tempo e, já no Inverno, Mia e Sebastian, bastante irritados, cruzam-se em pleno trânsito para dias mais tarde se voltarem a cruzar. Mas antes deste segundo encontro, que corre tão mal como o primeiro, Mia e um grupo de amigas cantam outra música, chamada “Someone In The Crowd” – também ela um prelúdio para o que vai acontecer, visto que nessa mesma noite Mia encontra Sebastian a tocar num bar para uma multidão de pessoas.
Someone in the crowd could be the one you need to know / The one to finally lift you off the ground / Someone in the crowd could take you where you wanna go / If you're the someone ready to be found.

Quando Mia volta a encontrar Sebastian, as coisas não correm bem para o lado dele pois depois de tocar uma música que não faz parte do reportório do bar onde trabalha é despedido e, consequentemente, acaba por ignorar Mia quando esta se aproxima. Esta música que ele toca é denominada “Mia & Sebastian’s Theme” e é a canção que marca o amor entre os dois. É por causa desta música que Mia entra naquele bar e através do seu olhar e das suas reações percebemos que se acende uma pequena chama no seu coração. Esta é também a primeira música que ela ouve Sebastian a tocar e é também a canção que inicia o epílogo, visto que ele decide tocá-la quando vê Mia cinco anos depois de se terem separado – já falarei sobre isso mais à frente.
Dias depois, volta a haver um encontro inesperado entre os dois, quando Mia vai a uma festa e percebe que Sebastian está numa banda que está lá a tocar. Nesse mesmo dia, dá-se a primeira canção entre eles – “A Lovely Night”, possivelmente a música com a melhor coreografia do filme (depois de “Another Day Of Sun”, claro). A ironia de “A Lovely Night” é que ambos dizem que não fazem o género um do outro e que nunca se iriam apaixonar, mas nós, enquanto espectadores, sabemos que nada do que eles dizem é verdade, precisamente pelo modo como dançam e cantam durante esta música e também pelas atitudes que têm quando estão na presença um do outro.

A partir deste momento, são vários os encontros e o amor vai crescendo. O problema é que as suas vidas não se conciliam e os sonhos acabam por levá-los por caminhos diferentes. Mia quer ser atriz e participa em inúmeros castings para atingir o seu sonho; Sebastian sonha em abrir um clube de Jazz, mas enquanto isso não se torna possível vai em digressão com a banda de um antigo colega seu e afasta-se cada vez mais de Mia. Chega uma altura em que é impossível continuarem juntos e, depois de Mia conseguir finalmente ser escolhida num casting, deixam mesmo de se ver.
Até que cinco anos depois, precisamente na estação do Inverno (durante a qual estes se viram pela primeira vez, no caótico trânsito de Los Angeles), os dois voltam a encontrar-se no “Seb’s”, o clube de Jazz que Sebastian tanto queria. Acontece que agora Mia é casada e tem uma filha, mas percebemos assim que ela entra no clube que ainda não esqueceu Sebastian, cumprindo a promessa que lhe tinha feito antes de se separarem: “I’m always gonna love you”.

Assim chegamos ao “Epilogue”, um dos momentos mais especiais de La La Land, que é marcado por muita cor, dança e ilusão para o espectador. Mia senta-se no meio da multidão do “Seb’s” e Sebastian entra no palco. Assim que a vê diz “Welcome to Seb’s”, com uma voz quase a desvanecer. Senta-se ao piano e, hesitante, começa a tocar uma música que já tinha aparecido no filme: “Mia & Sebastian’s Theme” – a primeira música que Mia o ouviu tocar, naquela noite em que atraída pelo som do piano decidiu entrar no bar onde ele trabalhava.
À medida que começam a soar as primeiras notas, todas as luzes da sala se apagam e apenas existem focos direcionados a Mia e a Sebastian. Depois Mia imagina a noite em que viu Sebastian a tocar no bar do qual foi despedido e vemos tudo o que aconteceu antes no filme a repetir-se. Mas desta vez, em vez de apenas passar ao lado dela ignorando-a, Sebastian beija-a e todas as pessoas do bar começam a festejar. Começam, então, a soar as notas da primeira música, “Another Day Of Sun”, seguindo-se as de “Someone In The Crowd”.

O epílogo regressa a um passado em que estes dois tinham uma vida feliz e em que tudo lhes corre bem: Sebastian leva Mia a clubes de Jazz; as peças de Mia são um sucesso; Mia vai a vários castings e é aceite… Tudo ao contrário do que aconteceu na realidade. O problema é que neste epílogo ambos abdicam de coisas que queriam, dos seus sonhos, mas nunca abdicam um do outro. Por exemplo, Mia é aceite nos castings mas nunca deixa Sebastian para trás e ficam sempre juntos (este chega mesmo a viajar com ela para Paris e abre lá o seu Clube de Jazz). O epílogo transmite todo ele uma ideia de fantasia e magia, quer através dos sons ou mesmo através de tudo o que nos é apresentado. Alguns cenários são pinturas, como quando Mia passa por entre as árvores de cartão ou até mesmo nas zonas de Paris que mostram o rio Sena. A música, por sua vez, alterna-se entre sons alegres e agitados e sons mais suaves e tristes que transmitem uma ideia de indecisão. Destaco o som do trompete, que por momentos parece levar-nos para outra dimensão – a dimensão do sonho - e que faz com que percebamos que nada do que estamos a ver é a realidade.
Perto do final do epílogo passam várias gravações de como teria sido se ambos tivessem ficado juntos: teriam um filho em vez da filha que Mia teve, teriam uma casa mais pobre do que Mia tem e haveria um ambiente familiar mais simples, mas aparentemente mais feliz do que aquele que vemos antes entre Mia e o seu marido atual.

Quando a música está prestes a terminar tudo volta à realidade. O marido de Mia pergunta-lhe se quer ficar mais tempo para ouvir outra música e ela responde que não, consciente de que as coisas devem continuar como estavam antes de ter entrado naquele bar. Mas quando está a sair, pára e olha para Sebastian que lhe devolve o olhar com um sorriso. Neste momento, ouvimos umas notas musicais que nos fazem ter a certeza de que estes dois ainda sentem alguma coisa um pelo outro, mas sabem que o melhor foi seguirem os seus sonhos.
É precisamente este final que marca a diferença: La La Land não pretende ser apenas sobre um casal que vive feliz para sempre (como tantos outros), mas sim um filme sobre seguir e realizar sonhos - e esta é uma temática muito presente nas obras de Chazelle, seja em Whiplash, com um jovem que quer ser baterista profissional, ou em O Primeiro Homem na Lua, em que explora a ambição do homem de chegar à Lua. Só que este La La Land é um daqueles filmes com que qualquer um de nós será capaz de se identificar e é por isso que o final resulta num autêntico murro no estômago – é um verdadeiro abre-olhos.
Ainda não me aventurei neste filme, mas tenho mesmo que tratar disso!
ResponderEliminarFica a recomendação! 😊
EliminarAinda não vi este filme por incrível que pareça :p
ResponderEliminarTenho de lhe dar uma oportunidade!
Certamente vais gostar!
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