Desconfio sempre um bocado quando os filmes ficam guardados em gavetas durante mais de um ano antes de terem um lançamento nos cinemas. Infelizmente, isso acontece muitas vezes. Está a acontecer agora e é esse o motivo pelo qual muitos dos filmes a chegar agora aos cinemas datam de 2018 ou 2019. É o caso de Ofélia (2018), realizado por Claire McCarthy, que só chegou na semana passada ao grande ecrã, numa tentativa de atrair pessoas às salas. Mas será que vale a pena pagar o preço do bilhete para o ver?

Ofélia traz-nos um objetivo que é bastante habitual: contar uma história popular, mas por outros olhos. Neste caso, temos a de Hamlet, pelos olhos da sua amada Ofélia, o que pode nem sempre corresponder à obra de Shakespeare. Temos uma versão mais fresca e livre, mais feminina, sem grandes compromissos. Acima de tudo, temos a tal narrativa que se inicia com a tão usada afirmação: “vocês ainda não conhecem a minha história” – quantas vezes ouvimos isto por ano?
Um dos grandes destaques desta longa-metragem é sem dúvida alguma o elenco, é o que chama logo à atenção. Protagonizado por Daisy Ridley e George MacKay e também com Naomie Watts e Clive Owen. Daisy Ridley surge aqui num género distante dos filmes de Star Wars que a tornaram popular, apresentando uma personagem corajosa, que é, principalmente, marcada por uma beleza conseguida através das suas feições serenas. Não sendo uma prestação memorável – o argumento não dá para mais, verdade seja dita –, tem momentos em que consegue brilhar, nomeadamente um em que tem de fingir estar maluca, e os seus risinhos complementam a mentira. Ao contrário, George MacKay parece não ter muito tempo para brilhar, pois a sua personagem está em constantes saídas de cena. Um dos seus melhores momentos é durante uma peça, em que este surge quase como um apresentador. Já Naomi Watts fica com mais trabalho que todos os outros, pois interpreta não apenas uma, mas duas personagens: duas gémeas, que a determinado momento têm um interesse amoroso em comum (interpretado por Clive Owen). No entanto, são duas personagens distintas no que toca a personalidades, tendo a atriz de assumir, em alguns momentos, uma faceta mais feroz e, noutros, uma mais calma, condescendente. O elenco contribui para que o filme se torne agradável de se ver a uma primeira vez, mas não deixa com vontade de ver uma segunda.

O argumento é apresentado de modo linear, o que levanta muitas questões em relação a algumas sequências, em que as personagens parecem simplesmente “aparecer” e “desaparecer”, sendo tudo facilitado para elas. Por exemplo, quando Ofélia consegue escapar do seu destino trágico. Inevitavelmente, o espectador questiona-se... Como assim? Porque é tudo tão fácil para ela? De resto, existem muitos outros momentos que são pouco coerentes, não por esquecerem a obra de Shakespeare – e isso não me parece um problema, pois desde início estava claro de que esta era uma outra história, com outra visão –, mas sim por parecer querer focar-se somente na personagem principal, não dando espaço para que compreendamos todos os que a rodeiam, ou para que haja sequer outros desenvolvimentos, o que no final prejudica o modo como o espectador recebe o terceiro ato, com um certo desinteresse.
A banda sonora consegue complementar a narrativa através dos seus versos: “Doubt thou the stars are fire / Doubt thou the sun doth move / Doubt truth to be a liar / But never doubt I love”. Vamos tendo pistas... Porém, a composição torna-se repetitiva, pois prolonga-se durante a maioria da duração do filme, sempre com os mesmos versos, o mesmo ritmo.

Não posso dizer que desgostei de Ofélia. Na verdade, o tempo até pareceu voar enquanto o estava a ver, pois estava curiosa com a sua história. Infelizmente, parece é ir buscar muitos dos habituais clichés do Cinema, quando se quer contar uma história de um ponto de vista novo. E não se destaca ao fazê-lo, sendo apenas mais um daqueles filmes que vimos uma vez e rapidamente esquecemos, mesmo que até tenhamos gostado de o ver. Não traz nada de novo, mas há falta de melhor em cartaz, por isso, dadas as circunstâncias, fica a recomendação.
6/10 ⭐
É uma pena que não traga uma visão nova. Porque acredito que, mesmo abordando lugares comuns, é possível inovar
ResponderEliminar