Depois do sucesso do primeiro Pesadelo em Elm Street, em 1984, uma continuação era inevitável, para esta que atualmente é uma das mais populares franquias de terror. No entanto, assim que estreou, Pesadelo em Elm Street II (ou, no original, A Nightmare on Elm Street Part 2: Freddy's Revenge) foi completamente arrasado não apenas pela crítica, mas, essencialmente, pelos fãs. O que havia de tão errado com este filme? Ao contrário do que acontecia até então, este não era protagonizado por uma rapariga indefesa que tinha de lidar com o vilão. Pelo oposto, o seu protagonista era um rapaz, Jesse, interpretado por Mark Patton. Acontece que a performance de Patton apresentava todos os elementos que as protagonistas femininas dos filmes deste género tinham: uma certa ingenuidade e uma capacidade de gritar que para os homens seria difícil de alcançar. Ora, com o passar dos anos, Mark Patton passou a ser considerado uma “Scream Queen”. Aliás, este viria a ser o primeiro “Scream Queen” depois da sua prestação neste filme que é agora considerado um dos melhores filmes de terror gay de todos os tempos.

Scream, Queen! My Nightmare on Elm Street é um documentário que vai buscar este tema e explora o modo como Mark Patton lidou com a crítica e com o facto de ter sido apelidado de “Scream Queen”. Mark Patton é gay assumido e foi depois do lançamento do filme que revelou a sua orientação sexual, já que através da sua performance começaram a ser levantadas suspeitas, especialmente com a sequência em que este dança. Infelizmente, depois do fracasso, Patton foi acusado de ter transformado o argumento numa história homossexual e este novo documentário pretende esclarecer isso.
Temos um claro objetivo ao longo da narrativa, que é a confissão por parte do argumentista David Chaskin de que a história tinha, de facto, sinais de relações homossexuais e de que isso não tinha saído da mente de Mark, que apenas interpretou o que lhe tinha sido pedido. Ou seja, a declaração de Chaskin é o destino deste documentário, que antes de aí chegar apresenta a vida de Patton: desde os seus relacionamentos, a doenças e afastamento da carreira no Cinema. Ficamos a conhecer o ator, as suas rotinas e o reconhecimento dos fãs, mostrado através de momentos deliciosos em convenções, nas quais Pesadelo em Elm Street II é celebrado pela sua originalidade.
Discute-se também neste documentário o subtexto do argumento, concluindo-se que este não é subtexto, mas apenas texto, pois tudo está explícito, ainda que muitos dos envolvidos na sua produção neguem ter conhecido os sinais quando filmaram – por estranho que pareça, o próprio realizador Jack Sholder diz não ter apanhado as referências homossexuais, nem nas sequências em que Freddy acaricia o rosto de Jesse. Soa tudo um tanto estranho: como puderam estes sinais tão explícitos ter escapado a tanta gente?

Scream, Queen! My Nightmare on Elm Street, que foi exibido no último dia do MOTELX - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa na secção Doc Terror, torna-se num documentário de redenção que é agradável de se ver por todo o percurso que faz até chegar ao seu clímax com um frente a frente entre Mark Patton e o homem que o culpa de ter tornado o filme em algo gay, o argumentista David Chaskin. É uma viagem agradável, especialmente pelo modo como nos apresenta o ator e todos os problemas com que teve de lidar, encontrando sempre uma saída. Não é tanto acerca de Pesadelo em Elm Street II, mas mais sobre o modo como um filme considerado mau (na altura em que foi lançado, pois agora é considerado um filme de culto, especialmente para a comunidade LGBT) pode prejudicar a carreira e a vida de uma pessoa. É um documentário que recomendo a quem quiser descobrir mais sobre esta história.
7/10 ⭐
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